“A ORIGEM”…ou como Deus se deixou explicar!
É energia vulcânica o que nos entra pelos olhos na contemplação destas composições saídas da magia criativa do grande e consagradíssimo Guilherme Mampuya, o incansável poeta das cores.
Felizes somos todos os que nos sentamos – força de expressão – a esta farta mesa de obras pintadas como se o artista fosse outro, como se os dedos fossem outros, como se os desígnios cromáticos fossem outros. Parecemos confrontados com um nível diferente do menu a que nos habituou há anos o nosso desbravador cénico do Zango, de onde as notícias nos chegam naquela torrente imparável que leva muitos à pergunta mil vezes repetida: este homem não descansa, não dorme?
É mesmo um menu diferente, podem dizê-lo sem o crónico receio das turbas naquele inexistente fato monárquico da velha história imortalizada. Aqui não é o rei que vai nu, é a arte fascinante de Guilherme Mampuya que se desdobra numa surpreendente revienga, deixando-nos todos à procura da familiar figuração que o tornou marca, raridade, ente singular no caleidoscópico mundo que explode nas telas de todos os hemisférios.
Marcante esta ruptura com a qual Mampuya decidiu realçar a violência das formas nos momentos em que a Terra, no seu processo de transformação cósmica, se foi posicionando. É disto que este conjunto de quadros fala: a origem de tudo!
É o ir e vir molecular da massa que corporifica ora a água e depois a floresta, as montanhas e os vales, os blocos continentais que umas vezes se afastam e outras se comprimem, toda essa dança inabarcável na regra dos números, dos cálculos e da racionalidade para desejar o seu próprio campo de explicações – a crença no X Supremo -, a essência do que está capturado nesta soberba sequência de telas e cores, indiscutivelmente uma projecção gigantesca em direcção ao futuro experimentada pelo artista.
Uma elaborada carga filosófica acompanha esta mostra pintada com o zelo invencível de Guilherme Mampuya e o desafio que deixa para quem assume o ônus da “desmaterialização” verbal do quebra-cabeças – o nosso caso – anda muito longe de ser fácil, sossegado, curto. Mas é o único caminho que se deve tentar porque se formos pelo das eras geológicas da Terra (pré-cambriano, cambriano, mesozoico…) no esforço solene de se explicar o que aqui se reúne, dir-nos-á a bondade poética da visão que vamos todos preferir este atalho.
Vibremos, pois, com esta “nova roupagem” de Guilherme Mampuya no dia em que se deu ao trabalho de explicar “A Origem”, brincando a sério com as teorias do big-bang, o árduo e mui secreto trabalho de Deus na separação das águas do mar e dos céus, o mistério das sementes e das árvores na curva ecológica do percurso, a imensidão da vida marinha e o povoamento incrível do ar pelas aves que voam incansáveis. Nada de tentar compreender com certezas o caminho da vida, para não voltarmos sempre ao mesmo ponto de partida…
Luís Fernando | 8 de Julho de 2021